"Desmatamento em Larga Escala na Amazônia É Business Imobiliário", Diz Secretário do Meio Ambiente do Pará

Ago 22, 2025 - 02:04
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"Desmatamento em Larga Escala na Amazônia É Business Imobiliário", Diz Secretário do Meio Ambiente do Pará

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A expansão da pecuária na Amazônia sempre esteve no centro das discussões sobre desenvolvimento e preservação. Hoje, em meio a pressões internacionais e compromissos assumidos por governos e empresas, o debate ganha uma nova dimensão: a transformação da atividade em símbolo de sustentabilidade. Mas esse caminho não é simples. Envolve disputas territoriais, modelos de ocupação e o desafio de incorporar milhares de produtores em uma cadeia ainda marcada por contradições. O Pará possui 110 mil propriedades pecuárias, com 26,7 milhões de bovinos, o maior rebanho da região. É o segundo do país, atrás de Mato Grosso com 34 milhões de animais.

Para o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), Raul Protázio, compreender a dinâmica que sustenta o desmatamento é essencial para reposicionar o setor.

“O desmatamento em larga escala na Amazônia é um business imobiliário”, diz ele.

“Ninguém (pelo custo) abre dois mil hectares pensando em produzir carne. O gado entra pela sua rusticidade, para ocupar o território e marcar a posse. O objetivo real é valorizar a terra e revendê-la. O boi é apenas sentinela dessa lógica”, afirma. Segudo Protázio, tudo começa por desmontar o “business imobiliário” que alimenta a grilagem de terras e valoriza a floresta derrubada.

Entre agosto de 2024 e julho de 2025, foram identificados 1.325 km² de áreas sob alerta, resultado que representa queda de 21% em comparação com os 1.681 km² registrados no ciclo anterior, sendo este o menor volume de alertas de desmatamento em dez anos, de acordo com o sistema Deter, do Inpe, em levantamento da Semas. Mesmo assim, essa área corresponde a aproximadamente quase toda a cidade de São Paulo (que tem 1.521 km²).

A fala de Protázio sobre os motivos do desmatamento no Estado desloca o foco do debate. A pecuária não é a causa direta da devastação, mas entra como beneficiária de um sistema de apropriação ilegal de terras públicas. “Quando dizemos que a pecuária causa desmatamento, estamos sendo injustos. O problema não é o produtor que investe em tecnologia e produtividade. O problema é um modelo que trata a floresta como especulação. Se não mudarmos essa lógica, qualquer iniciativa de sustentabilidade terá alcance limitado”, diz.

GovPara

Raul Protázio, secretário de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará

Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém em 2025, o Pará tenta consolidar um novo capítulo na relação entre pecuária e meio ambiente. O estado, historicamente associado a altas taxas de desmatamento, assumiu a dianteira com medidas pioneiras para transformar sua imagem e atrair investimentos para uma economia mais limpa. Entre elas está o Programa de Pecuária Sustentável do Pará, que prevê a rastreabilidade individual obrigatória de todo o rebanho bovino estadual. A proposta é inédita em escala mundial para pecuária extensiva. Cada animal terá sua origem vinculada a uma propriedade cadastrada, impedindo que bois de áreas ilegais cheguem ao mercado.

O estado também inovou ao ser o primeiro a vincular o Cadastro Ambiental Rural (CAR) à Guia de Trânsito Animal (GTA). A medida impede que fazendas sem regularização ambiental movimentem animais, fortalecendo o controle da cadeia e dificultando a entrada de gado de áreas desmatadas ilegalmente. Outro exemplo é o programa de requalificação de produtores. Em vez de excluir definitivamente aqueles que apresentam irregularidades, a estratégia é incluí-los em processos de adequação, garantindo assistência técnica e abertura para a legalidade. “Não podemos tratar o pecuarista como vilão. Ele precisa estar no centro da solução, porque é quem de fato implementa as mudanças na propriedade”, afirma.

Mas, segundo o secretário, essas ações não se sustentam sem o engajamento de outros atores. O governo estadual cobra a participação de frigoríficos, bancos, varejo e sociedade civil em uma coalizão ampla, capaz de dar escala às iniciativas. O exemplo da China, que ao exigir animais abatidos com menos de 36 meses provocou rápida transformação na pecuária paraense, é usado por Protázio para mostrar que pressões de mercado têm o poder de induzir mudanças estruturais.

“Se o Pará conseguir provar que é possível conciliar pecuária e sustentabilidade, criaremos um movimento de contágio positivo para toda a Amazônia. Mas, se falharmos, dificilmente alguém tentará novamente”, diz ele.

A indústria entre avanços e desafios

Sobre a ocupação do território, a visão de Protázio é compartilhada, em parte, por Francisco Victor, presidente da Aliança Paraense da Carne. Para ele, a história da ocupação do Brasil explica por que a pecuária foi associada ao desmatamento. “A ocupação do território nunca obedeceu a um plano de longo prazo. O gado serviu como instrumento de posse, mas isso não define o presente da atividade. Hoje, a indústria opera sob rigoroso controle sanitário e socioambiental, com auditorias frequentes e sistemas de rastreabilidade”, diz.

Victor lembra que, no Pará, desde 2009, frigoríficos estão submetidos a TACs (Termos de Ajustamento de Conduta) firmados com o Ministério Público Federal, impedindo a compra de gado de áreas embargadas ou ligadas a trabalho escravo. “Mais de 90% dos animais abatidos já estão em conformidade. Isso não elimina as irregularidades, mas mostra um setor em transformação. O maior desafio é garantir que o avanço da conformidade não penalize quem segue a lei, enquanto outros continuam competindo com custos mais baixos à margem da legalidade”, afirma.

Para ele, a aposta mais ousada está no programa estadual de rastreabilidade individual obrigatória. “Nenhum país no mundo implantou um sistema dessa escala. É arriscado, mas necessário. Se der certo, o Pará poderá mostrar que é possível conciliar pecuária extensiva e controle socioambiental em um território do tamanho de um continente”, diz ele.

Na avaliação de Marina Guyot, os avanços ainda convivem com contradições. Marina é gerente de Políticas Públicas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), órgão que tem como princípio a visão de que conservar florestas passa por atribuir valor econômico e adotar práticas responsáveis de manejo. “O Brasil conseguiu elevar a produtividade da pecuária em 172% nos últimos 30 anos, ao mesmo tempo em que reduziu a área de pastagens em 6%. No entanto, a abertura de áreas continua sendo o principal vetor do desmatamento. Ou seja, crescemos em produtividade, mas não conseguimos eliminar o incentivo para ocupar novas terras”, afirma.

Ela destaca que a transparência sobre a origem da carne brasileira pode ser um ativo estratégico. “O Brasil possui algumas das melhores bases de dados do mundo em uso da terra e uma legislação ambiental mais rigorosa que a de muitos concorrentes”, afirma. “Se qualificarmos melhor essa informação e garantirmos acesso a tecnologias de rastreamento, podemos reposicionar a imagem da pecuária no mercado internacional. Mas é preciso incluir pequenos e médios produtores nessa transição. Sem eles, qualquer política terá alcance limitado.”

Paula Bernasconi, líder de engajamento da Plataforma Trase na América Latina, diz que a pecuária brasileira vive um processo de intensificação produtiva, mas que isso não eliminou o desmatamento na Amazônia. “Nos últimos 20 anos, a área de pastagens aumentou apenas 4%, mas o número de animais abatidos duplicou. Esse ganho mostra a força da intensificação produtiva”, afirma ela. “O problema é que parte dessa expansão deslocou a pecuária para dentro da Amazônia. É nesse ponto que entra a importância da transparência. Hoje, 70% da carne exportada pelo Brasil já sai de empresas com compromissos de desmatamento zero, mas o desafio é transformar compromisso em implementação efetiva.”

Um dado que ela considera central é a concentração espacial do problema. “Metade do desmatamento associado à pecuária está em apenas 2% dos municípios produtores. O Brasil tem mais de 3.200 municípios com pastagens, mas poucos concentram a maior parte das irregularidades. Esse diagnóstico é estratégico para orientar políticas públicas e investimentos. Não se trata de excluir, mas de priorizar onde a transição é mais urgente”, afirma Paula.

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