Por Que Este Professor Bilionário de Berkeley Não Pretende Deixar a Sala de Aula

Ago 16, 2025 - 23:05
Ago 17, 2025 - 02:44
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Por Que Este Professor Bilionário de Berkeley Não Pretende Deixar a Sala de Aula

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

O professor de Berkeley, Ion Stoica, e seus alunos não gostam de ser superados por ninguém — muito menos por Stanford. Por isso, quando um usuário pediu uma forma de comparar o chatbot de código aberto Vicuna, deles, com o modelo Alpaca, da universidade rival, a equipe de Berkeley colocou os robôs para se enfrentarem em uma batalha de IA.

A comunidade de usuários foi à loucura. Em seguida, o grupo de Stoica adicionou a possibilidade de testar modelos aleatórios lado a lado e permitiu que o público votasse no vencedor. Tudo não passava de uma brincadeira, explica o professor associado Joseph Gonzalez, que trabalhou no projeto junto com Stoica e os alunos Wei-Lin Chiang e Anastasios N. Angelopoulos.

Da diversão, nasceu o ChatBot Arena, um site que hospeda mais de 400 modelos de IA e permite que os usuários conversem com vários deles simultaneamente. Em abril, ele foi rebatizado como LMArena, com Stoica como presidente do conselho, Chiang como diretor de tecnologia (CTO) e Angelopoulos como CEO. A empresa também anunciou US$ 100 milhões (R$ 540 milhões) em capital de risco, alcançando uma avaliação de US$ 600 milhões (R$ 3,24 bilhões).

Com apenas dois anos de existência, o LMArena já é utilizado por desenvolvedores como OpenAI, xAI e Google para testar seus chatbots, e acumulou mais de 3,5 milhões de votos de usuários que opinaram sobre esses modelos em constante evolução.

Essa é apenas a mais recente iniciativa de pesquisa do laboratório do professor de Ciência da Computação, Ion Stoica — financiado principalmente por companhias privadas de tecnologia, como Microsoft, Nvidia, Google e IBM — que ganhou destaque na indústria. Ao longo de quase três décadas na academia, ele fundou quatro startups com colegas e alunos da universidade, incluindo duas que se tornaram unicórnios.

Primeiros passos

Stoica tem 60 anos de idade. Ele nasceu na então Romênia comunista e mudou-se para os Estados Unidos no final da década de 1990 para cursar doutorado em engenharia elétrica e de computação na Universidade Carnegie Mellon. Hoje é dono de um patrimônio estimado em US$ 2,5 bilhões (R$ 13,5 bilhões).

Após sua formação, ele se mudou para a costa oeste e começou a lecionar na Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano 2000, sem nunca abandonar seu laboratório ou alunos desde então. Ele ministra aulas para estudantes de graduação, embora a maior parte de suas pesquisas seja feita com doutorandos. Neste semestre, por exemplo, ele ministra uma disciplina sobre programação de sistemas.

A primeira startup da Stoica, a empresa de análise de streaming Conviva, surgiu em 2006, na época em que o YouTube se popularizava. Ela nasceu de sua colaboração com ex-colegas da Carnegie Mellon, incluindo seu próprio orientador de doutorado, Hui Zhang, que o descreve como “um dos melhores pesquisadores do mundo”.

Stoica e Zhang vinham pesquisando maneiras de oferecer streaming de vídeo de qualidade pela internet e, ao observar o mercado emergente, decidiram transformar isso em um negócio. A Conviva, que fez sua última rodada de captação em 2017 com avaliação de US$ 300 milhões (R$ 1,62 bilhão), atua como um “observador inteligente” de filmes online, identificando problemas de áudio ou vídeo. Também fornece relatórios sobre o que as pessoas assistem, quais trechos pulam e o que mais gostam, atendendo clientes como Fox e Peacock.

Apesar de não ter mais uma carga executiva na empresa, sediada em Foster City, Califórnia, Stoica permanece no conselho, se reunindo semanalmente com a equipe. “Temos potencial para ser os próximos Databricks”, diz Zhang, diretor de tecnologia da Conviva, referindo-se à empresa de análise de dados avaliada em US$ 62 bilhões (R$ 334,8 bilhões) cofundada por Stoica com outros seis pesquisadores de Berkeley.

Bilionário que preferiu a sala de aula ao IPO

Foi o Databricks que transformou a Stoica e pelo menos dois de seus cofundadores de Berkeley em bilionários.

Em 2013, Stoica buscou formas mais eficazes de processamento de grandes quantidades de dados junto com Ali Ghodsi, pesquisador visitante do Instituto Real de Tecnologia KTH, em Estocolmo, e cinco doutorandos. Juntos, eles desenvolveram o Spark, um software que se tornou uma ferramenta de processamento de dados.

Segundo Matei Zaharia, um dos doutorandos que cofundaram a Databricks e hoje professor associado em Berkeley, Stoica queria transformar o Spark em uma startup para que os usuários levassem uma pesquisa do laboratório mais a sério. Além disso, ele queria ajudar empresas menores, sem infraestrutura sofisticada, a gerenciar grandes volumes de dados para desenvolver ferramentas de IA. A empresa projetou que a receita anualizada chegaria a US$ 3,7 bilhões (R$ 19,98 bilhões) até julho e, há anos, é alvo de rumores sobre uma possível abertura de capital.

Como presidente de um grupo criado para lidar com cortes no financiamento de pesquisas em Berkeley, Stoica incentiva outros professores a buscar recursos privados, adotando o modelo que trouxe tanto sucesso ao seu laboratório. Não que essa fosse sua intenção inicial. “Ainda sou um acadêmico de coração”, diz. Para ele, nunca foi uma questão de enriquecer. “Se o objetivo fosse só dinheiro, você faria um IPO. É o caminho mais fácil. Mas não é isso. É sobre construir algo significativo.”

Stoica foi CEO da Databricks de 2013 a 2016, quando passou o comando para Ghodsi e assumiu o cargo de presidente executivo. “Permanecer além disso significaria deixar Berkeley. Então tive que escolher”, diz ele. “E escolhi voltar.”

Ele nunca se dedicou integralmente aos negócios devido  aos alunos. “Jovens, em sua fase de formação, às vezes não sabem o que é possível ou não… Eles têm esse tipo de crença, e é por isso que surgem soluções inesperadas”, explica. Além disso, Stoica atribuiu seu sucesso empresarial ao foco na pesquisa: “É o ato de criar… explorar novas ideias”.

“Eu pensei que ele tinha chegado tão longe por não se importar tanto com problemas de pesquisa. Mas eu estava errado. Ele realmente se importa com os valores da pesquisa”, afirma Yang Zhou, um de seus atuais pós-doutorandos.

A fama de Stoica em Berkeley vai bem além de ser  um bom professor. Ele também é um excelente conselheiro para ideias de negócios e, mais importante, é alguém capaz de ajudar a transformá-las em realidade com apoio financeiro.

Mais ideias

Foi essa confiança que atraiu os alunos com quem ele cofundou a Anyscale — a segunda empresa bilionária de seu portfólio. Seis anos após a criação do Spark, os doutorandos Philipp Moritz e Robert Nishihara, orientados por outro professor de ciência da computação de Berkeley, Michael Jordan, buscaram corrigir uma limitação que obrigava o Spark a esperar todas as tarefas terminarem antes de passar para a próxima operação.

“Eu disse que eles não tiveram muita liderança da minha parte. Não sou um construtor de sistemas”, lembra Jordan. Então, ele os incentivou a fazer a disciplina de sistemas distribuídos de Stoica, onde trabalharam juntos em uma solução. Esse projeto se transformou no Ray, um software projetado para lidar com aprendizado por reforço em larga escala de forma mais eficiente do que sistemas síncronos como o Spark.

“No estilo típico de Ion, rapidamente ele quis transformar isso em uma empresa”, diz Jordan, que ajudou a fundar uma companhia junto com Stoica e seus alunos.

Assim nasceu a Anyscale, em 2019. Em apenas três anos, a plataforma que ajuda desenvolvedores a expandir suas aplicações de IA arrecadou US$ 260 milhões (R$ 1,4 bilhão), incluindo US$ 200 milhões (R$ 1,08 bilhão) em sua rodada mais recente, em setembro de 2022, que avaliou a empresa em US$ 1,4 bilhão (R$ 7,56 bilhões). Stoica, presidente executivo da companhia sediada em São Francisco, afirma que a Anyscale está muito bem e pretende captar mais recursos nos próximos 12 meses.

“Ele gosta de enxergar esses problemas e tentar entender como realmente resolvê-los. Isso é o que faz uma grande pesquisa e também um grande negócio”, diz Gonzalez, professor associado e pesquisador do LMArena, sobre o colega.

Para Stoica, a chave para resolver problemas está nas universidades: “Todos podem usar a pesquisa acadêmica. Compare isso com uma empresa… Elas não vão publicar… Não vão liberar o código de seus melhores sistemas.” Tanto o Spark, da Databricks, quanto o Ray, da Anyscale, surgiram como projetos de código aberto e continuam disponíveis ao público até hoje.

Apostando na IA

O laboratório de Stoica não sofreu com os cortes de financiamento da era Trump, e provavelmente não sofrerá tão cedo: “estamos em uma posição mais favorável”, explica. O laboratório de computação em Berkeley, cujo orçamento anual ultrapassa US$ 6 milhões (R$ 32,4 milhões), é financiado por grandes empresas de tecnologia, como Google e IBM, desde o início da década de 2010, além de receber recursos da própria Anyscale.

Mas alguns de seus colegas sentiram o impacto, aqueles que iniciaram seus projetos na universidade em áreas que vão desde tornar a literatura clássica mais acessível até combater as mudanças climáticas.

Um dos professores mais bem-sucedidos de Berkeley, Stoica agora preside um grupo que busca lidar com cortes de financiamento em todo o colégio de computação, ciência de dados e sociedade, segundo a reitora Jennifer Chayes. Como presidente, ele incentivou seus colegas a buscar recursos privados, repetindo o modelo que trouxe tanto sucesso ao seu próprio laboratório. “Ele está liderando isso com ideias incrivelmente criativas sobre como abordar empresas e fundos de capital de risco”, afirma Chayes.

Mais de 80 alunos que receberam orientação direta de Stoica se beneficiaram de seus recursos e conexões. A maioria é empregada na academia ou no ecossistema de startups, incluindo pelo menos sete que trabalham no Databricks.

Mas o mercado de trabalho em tecnologia não é tão generoso para todos. Formados em ciência da computação, antes entre os candidatos mais disputados, agora enfrentam dificuldades para conseguir emprego, à medida que a IA leva empresas a reduzir suas equipes.

“O que digo aos alunos é para abraçar e usar essas ferramentas de IA”, diz Stoica. “Está claro que há alguma dor no curto prazo. Mas pense de outra perspectiva.” Para ele, a IA é uma forma de acelerar o ritmo da evolução humana e, eventualmente, se tornar uma civilização interplanetária. “Se você vê dessa maneira, ainda não temos pessoas suficientes para fazer isso acontecer”, afirma.

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