A Guerra Tarifária de Trump Está Criando um Novo e Improvável Bilionário nos EUA

Ago 18, 2025 - 17:04
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A Guerra Tarifária de Trump Está Criando um Novo e Improvável Bilionário nos EUA

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Em julho, o Departamento de Defesa dos EUA fez um movimento incomum para uma agência federal americana: comprou US$ 400 milhões (R$ 2,16 bilhões) em ações recém-criadas, além de warrants, com o objetivo de adquirir mais papéis da mineradora de terras-raras MP Materials. Como parte do acordo, o departamento também assinou um contrato de dez anos para comprar ímãs de terras-raras da mesma empresa, que serão usados em equipamentos militares.

O  motivo de o governo federal ter entrado em cena foi o fato da MP Materials ser a única dona de uma mina de terras-raras nos Estados Unidos, localizada em Mountain Pass, no deserto de Mojave, na Califórnia. Lá, a empresa extrai, refina e separa materiais como neodímio e prasiodímio, elementos essenciais para construir os ímãs empregados em veículos elétricos, drones, sistemas de defesa, robótica, turbinas eólicas e outras tecnologias avançadas.

Desde o anúncio do Departamento de Defesa, as ações da MP Materials subiram 150%, levando James Litinsky, seu fundador e CEO, a entrar no seleto grupo dos bilionários. Morador de Las Vegas, Litinsky tem 47 anos e é dono de um patrimônio estimado em US$ 1,2 bilhão (R$ 6,48 bilhões), considerando sua participação de 8% na mineradora, e mais de US$ 200 milhões (R$ 1,08 bilhão) em dinheiro e investimentos externos, segundo estimativas da Forbes. A MP Materials é avaliada em cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões),  conforme indicavam dados do fechamento do mercado relativos ao dia 8 deste mês.

Litinsky, que não respondeu ao pedido da Forbes para comentar sobre sua fortuna, não é o típico magnata da mineração. Ele estudou economia em Yale e fez seu Juris Doctor e MBA na Northwestern University, antes de trabalhar na gigante de investimentos Fortress Group e fundar seu próprio hedge fund, a JHL Capital, em 2006.

Em 2014, sua empresa comprou US$ 20,5 milhões (R$ 110,7 milhões) em títulos problemáticos da Molycorp Minerals, antiga dona da mina de Mountain Pass. Três anos depois, durante o processo de falência da Molycorp, Litinsky transformou esses títulos na propriedade total da mina, que estava inativa e inundada. Com um financiamento de US$ 50 milhões (R$ 270 milhões), vindo de um investidor chinês e uma limpeza que durou 18 meses, a MP Materials, como passou a se chamar, voltou a operar em 2018. Litinsky abriu o capital da empresa em 2020 via Special Purpose Acquisition Companies (SPAC), e a produção já mais que triplicou desde então.

Enquanto as tarifas e a guerra comercial do presidente americano, Donald Trump, causam caos nas cadeias globais de suprimentos e elevam os preços para os consumidores americanos, a MP Materials está em uma posição única para se beneficiar da situação, principalmente pelo aumento das tensões entre EUA e China. Isso porque o mercado chinês domina o comércio mundial de terras-raras, processando 90% dos metais e produzindo 95% dos ímãs de alta resistência. Os EUA importam quase todas as 7 mil toneladas anuais produzidas na China.

Trunfo chinês

A China tem usado a dependência americana desses ímãs como moeda de troca nas negociações com Trump. Após o anúncio das tarifas do “Dia da Libertação”, em abril, o país passou a exigir que empresas estrangeiras obtenham licenças para exportar ímãs de terras-raras, o que provocou uma crise para as companhias americanas: as exportações desses ímãs para os EUA caíram 59% em abril, e 93% em maio, segundo o Wall Street Journal. Para a MP Materials, essa restrição gerou um aumento na demanda interna. “Nunca vi nada igual em termos de urgência”, disse Litinsky à Forbes em abril.

Ironicamente, Litinsky contou com os chineses para tirar a MP Materials do papel e manter o negócio antes da guerra comercial de Trump. A Shenghe Resources, gigante chinesa de terras-raras com sede em Chengdu e parcialmente controlada pelo governo chinês, financiou a oferta da JHL em 2017, ao comprar US$ 50 milhões (R$ 270 milhões) do futuro concentrado de terras-raras produzido pela MP Materials. Esse dinheiro ajudou a custear a limpeza da mina e os novos investimentos, em troca de 8,4% da empresa, participação que a Shenghe mantém até hoje, embora não tenha envolvimento operacional e nem seja membro do conselho da da empresa.

Além disso, Shenghe é o maior cliente da empresa, representando 80% dos US$ 204 milhões (R$ 1,1 bilhão) em receita do ano passado. Isso está mudando rápido: após o “Dia da Libertação” e as tarifas retaliatórias da China, a MP Materials anunciou que vai parar de enviar seus produtos para a China e focar em outros compradores.

Para reduzir a dependência da China, a mineradora precisa seguir integrando verticalmente suas operações. A refinaria de Mountain Pass já processa cerca de metade dos minérios extraídos da mina, mas ainda está construindo a capacidade para refinar os metais neodímio e prasiodímio, essenciais para os ímãs. O investimento de US$ 400 milhões (R$ 2,16 bilhões) do governo deve ajudar nessa etapa. Mais à frente na cadeia, a MP Materials montou uma fábrica de ímãs em Fort Worth, Texas, que já produz ímãs e deve iniciar produção comercial completa ainda neste ano. Em conjunto com o acordo com o Departamento de Defesa, a empresa anunciou que vai construir uma segunda fábrica de ímãs nos EUA, em local ainda não divulgado, com um aporte financeiro de US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões).

Tudo isso tem um custo alto, mas o mais pesado para a MP Materials foi a forte queda nos preços das terras-raras nos últimos anos, que impactou bastante seu resultado financeiro. Depois de um lucro recorde de US$ 290 milhões (R$ 1,57 bilhão) em 2022, a empresa teve US$ 24 milhões (R$ 129,6 milhões) de lucro em 2023 e prejuízo de US$ 65 milhões (R$ 351 milhões) no ano passado. Ainda assim, a companhia está bem posicionada, com US$ 750 milhões (R$ 4,05 bilhões) em caixa e equivalentes, uma lista crescente de clientes americanos como a General Motors e, agora, o apoio do governo em meio à escalada da guerra comercial. Mesmo com as ações negociadas em máxima histórica, acima de US$ 73,00 (R$ 394,00) por papel, sete dos 11 analistas recomendam compra, enquanto os outros quatro indicam manter.

Embora Litinsky não tenha conhecimento técnico em mineração ou geologia, ele claramente sabe reconhecer um bom investimento. Ele transformou um lance de US$ 20,5 milhões (R$ 110,7 milhões) em títulos problemáticos em uma empresa avaliada em US$ 13 bilhões (R$ 70,2 bilhões), que tem importância estratégica para seu país. “Se você consegue comprar um ativo de classe mundial por um preço abaixo do custo de reposição no fundo do ciclo, a sorte encontra”, disse ele à Forbes no ano passado.

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